Um gato do mato, gorducho e rajado bebia água de uma poça formada pela chuva, ao ver um leão se aproximando ficou assustado. O leão foi chegando de mansinho, como quem não quer nada, deu umas lambidelas na água e olhou para o gato com o ar de quem saboreia e devora um delicioso prato.
- Olá Gatinho, você mora aqui perto? – perguntou o astuto leão.
- Moro sim Seu Leão. O senhor que parece estar vindo de longe. – respondeu o ressabiado gato.
- Ah, estou mesmo. Há dois dias fugi do circo em que vivia e estou andando por estas bandas, perdido e faminto.
Ao ouvir isso o gatinho imediatamente deu três passos para trás, arregalando os olhos em direção ao leão, que analisava todos os movimentos do bichano. O leão ao perceber a reação temerosa do pequeno felino a sua frente disse:
- Calma amiguinho, não irei te fazer nada. Mas quero lhe propor uma sociedade. Quando estava vindo nessa direção, vi um bando de corças que passaram correndo. Se você me mostrar onde posso encontrá-las prometo te dar um belo pedaço de carne para o jantar.
O gato que era muito esfomeado não pensou duas vezes e aceitou imediatamente a proposta.
- Venha, venha Seu Leão. Vou lhe mostrar onde elas se escondem. Mas quero um pedaço de carne bem grande e suculento.
- Claro companheiro, lhe darei o pedaço mais suculento que houver.
Andaram por alguns minutos em direção a mata fechada, até que o gato parou bruscamente, olhou para trás, fez um sinal para que o leão não fizesse barulho e apontou o bando.
O leão então, como hábil caçador, estudou todo o território até que descobrisse o melhor lado para poder atacar o bando, e enfim satisfazer sua fome voraz.
Tudo certo, estratégia traçada, e lá foi ele em direção as corças, que nada suspeitavam. Ao verem aquele bicho enorme vindo em sua direção, elas saíram em disparada, sem olhar para trás, correndo como nunca haviam corrido.
E não é que o esperto leão acabou ficando para trás, cansado, com fome, não teve fôlego suficiente para alcançar o bando que foi sumindo entre a poeira levantada do chão. O leão voltou para onde o gatinho o esperava, e com ar de decepção contou-lhe o que havia acontecido.
Resolveram andar pela floresta em busca de algo que pudesse ser o jantar, e como o gato conhecia melhor o caminho foi indo na frente. O faminto rei da selva observava seu até então sócio andando, suas perninhas roliças, seu corpinho redondo, e sua boca foi se enchendo de água, quando percebeu estava passando a língua entre os lábios para conter a saliva.
Em um impulso, zapt, o leão estava com uma das patas em cima do corpo gorducho e rajado do gatinho, que o olhava conformado com seu destino.
O gatinho fez então o que seria a sua última pergunta:
- Por que? Só me diga porque está fazendo isso comigo.
- A lei da selva meu caro. Nada pessoal, apenas a lei da selva...
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