Ao abrir a porta do quarto, apenas um corpo. Caído.
Os olhos vasculharam todo o quarto em busca, talvez, de algo que negasse a cena à sua frente. Mas, infelizmente, não havia como mudar a realidade, logo ali, via-se aquele corpo frágil, mirradinho, deitado de lado, coberto por um pijama com desenhos infantis, nos pés, meias azuis, o corpo aparentemente sem vida, sem cor, sem ar, sem o último suspiro.
Mas alguma coisa chamou sua atenção, tinha algo de errado naquela cena, alguma coisa que destoava, como uma desafinada melodia, fúnebre e desafinada.
Uma bagunça incomum, sim, todo o quarto revirado de pernas para o ar, mesmo ainda imóvel, ainda na porta do quarto, sem ter coragem de dar um único passo em direção àquele corpo, sem confirmar a vida que lá não mais havia, notou-se a estranheza da cena.
Um passo para trás, sua primeira reação foi tentar sair dali, descer a escadaria correndo e chamar os seguranças, mas não conseguia, não sem antes ter certeza de que aquele corpo não tinha mais vida.
Voltou com o pé no mesmo lugar que estava, suspirou fundo, tomou coragem e passo a passo, devagar, ao seu tempo, foi aproximando-se vagarosamente daquele corpinho pequeno, quase que infantil, deu outro suspiro, esse mais profundo, tomou mais coragem e ajoelhou-se diante dele.
Constatou, não havia mais um sopro de vida nele.
Saiu correndo, desceu as escadas como um raio, abriu a porta da frente da imponente mansão e tirando forças de sabe-se onde, gritou: ELE ESTÁ MORTO! ELE ESTÁ MORTO! ELE ESTÁ MORTO!
Em segundos, aproximaram-se quase uma dúzia de homens, todos com o mesmo uniforme azul marinho, empurraram-na subitamente e subiram os 57 degraus da escada que os levaria ao quarto dele, chegaram ao último degrau, ofegantes, desesperados, assustados com a possibilidade do que os esperava.
Entre olharam-se, e mesmo sem uma única palavra decidiram quem seria o primeiro a entrar naquele quarto. Aparentemente ele era o chefe, aparentemente ele era o mais velho, aparentemente ele era o único capaz de enfrentar o que os esperava.
O inevitável, a visão daquele corpo, primeiro um suspiro, depois a procura dos olhos que o observavam para a confirmação, depois uma busca minuciosa por uma resposta e só então que notou uma sombra.
Uma sombra que o observava, que observava a todos, que observava aquela triste cena.
Dá alguns passos até o closet, a porta semi-aberta o permite observar um vulto conhecido. Para. Pensa. Olha o corpo caído. Olha o vulto que o observa. Confuso recua alguns passos.
Avalia toda a cena novamente. Busca passar orientações aos outros, apenas pelo olhar. Conta mentalmente, até três.
Pronto! O vulto, deixou de ser vulto, estava cercado, na claridade, e todos o observam assustados.
O corpo caído e aquele que estava na sua frente, eram idênticos, gêmeos, sósias. Difícil de dizer qual o verdadeiro. A não ser pelo detalhe de que ele não usaria aquelas roupas, àquela hora do dia, sem nenhum motivo, a não ser por outro detalhe, uma arma, em suas mãos, imponente, como um troféu.
Algemaram-no. Pegaram o telefone no criado-mudo. Ligaram para a polícia. Esperaram.
Assim que os médicos confirmaram a morte, assim que os policiais removeram aquele sinistro personagem, assim que ficou um vazio dentro de todos eles, ouvi-se bem baixinho:
- Maldito seja esse fã doentio. Ele matou o Rei da Pop Music. Ele matou Michael Jackson. Maldito seja para todo o sempre!
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